Como é ser diferente em administração? A performance de discentes gays e bissexuais em uma graduação heteronormativa

Diego Costa Mendes, José Ricardo Costa de Mendonça
DOI: https://doi.org/10.21529/RECADM.2021017

Texto completo:

PDF

Resumo

Este estudo objetiva evidenciar a compulsoriedade heterossexual em Administração e sua relação com a performance de discentes gays e bissexuais do curso. Com base na compreensão sobre performatividade, performance, heteronormatividade e matriz de inteligibilidade, foram realizadas entrevistas com 16 discentes (gays e bissexuais) do curso de Administração de uma IES privada e, posteriormente, os enunciados coletados foram trabalhados a partir de análise do discurso. Percebemos que a heteronormatividade evidenciada na prática social da Administração compele práticas compulsórias aos discentes, sendo regida por normas que instigam a repetição de performances legitimadas e que se amparam na compreensão linear entre corpo, sexo e desejo. Os corpos dos discentes circunscritos no curso tendem a ser regulados com base em imposições estabelecidas a partir da compulsoriedade heteronormativa. Acreditamos ainda que a matriz heterossexual possibilita controle social na Administração a partir de elementos legitimados que projetam performances esperadas e que buscam conformar os corpos discentes sobre identidades previamente arquitetadas.

Palavras-chave

performatividade; performance; heteronormatividade; LGBT; graduação em administração


Compartilhe


Referências


Benschop, Y., & Doorewaard, H. (1998). Covered by equality: the gender subtext of organizations. Organizations Studies, 19(5), 787-805.

Berlant, L., & Warner, M. (1998). Sex in public. Critical Inquiry, 24(2), 547.

Borba, R. (2014). A linguagem importa? Sobre performance, performatividade e peregrinações conceituais. Cadernos Pagu, 43(2), 441-474.

Bourdieu, P. (1996). Novas reflexões sobre a dominação masculina. In Lopes, M. J. M.,

Meyer, D. E., & Waldow, V. R. (Orgs.). Gênero e Saúde. Porto Alegre: Artes Médicas.

Brasil (2005). Diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em Administração. Resolução nº 4, 13 de julho de 2005. Brasil: Ministério da Educação. Recuperado em 1 março, 2019, de http://portal.mec.gov.br/component/content/article?id=12991

Bravo, J. (2015). Do "Eu" ao "Outro": a estilização do corpo queer. Periódicus: Revista de estudos indisciplinares em gênero e sexualidades, 3(1).

Burbules, N. C. (2008). Uma gramática da diferença: algumas formas de repensar a diferença e a diversidade nos tópicos educacionais. In Garcia, R. L. & Moreira, A. F. B. (Orgs.). Currículo na contemporaneidade: incertezas e desafios. (3a Ed.) São Paulo: Cortez.

Butler, J. (1993). Critically Queer. GLQ: A Journal of Lesbian and Gay Studies, (1), 17-32.

Butler, J. (1993a). Bodies that matter: on the discursive limits of “sex”. Nova York: Routledge.

Butler, J. (1998). Fundamentos contingentes: o feminismo e a questão do "pós-modernismo". Cadernos Pagu, 11, 11-42.

Butler, J. (2017). Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. 13ª Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

Cameron, D. (1995). Verbal hygiene. London: Routledge.

Cameron, D., & Kulick, D. (2003). Language and sexuality. Cambridge: CUP.

Cappelle, M. C. A., Melo, M. C. O. L., & Souza, N. L. (2013). Mulheres, trabalho e administração. RIGS – Revista Interdisciplinar de Gestão Social, 2(2), 161-191.

Colling, L. (2018). Gênero e sexualidade na atualidade. Salvador: UFBA, Instituto de Humanidades, Artes e Ciências; Superintendência de Educação a Distância.

Derrida, J. (1990). Limited Inc. Paris: Éditions Galilée.

Fairclough, N. (2012). Análise crítica do discurso como método em pesquisa social científica (I. F. Melo, Trad.). Linha D´Àgua, 25(2), 307-329.

Fairclough, N. (2016). Discurso e mudança social. 2a ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília.

Filax, G., Sumara, D., Davis, B., & Shogan D. (2015). Teoria Queer/Abordagem lésbica e gay. In Somekh, B., & Lewin, C. (Orgs.). Teoria e métodos de pesquisa social. Petrópolis/RJ: Vozes.

Fleury, M. T. L. (2000). Gerenciando a diversidade cultural: experiências de empresas brasileiras. RAE (Revista de Administração de Empresas), 40(3), 18-25.

Goffman, E. (1959). The Presentation of self in everyday life. Nova York: Anchor Books.

Hanashiro, D. M. M., & Torres, C. V. (2010). Introdução de edição especial. RAM (Revista de Administração Mackenzie), 11(3), 2-5.

Hearn, J. (1992). Changing men and changing managements: a review of issues and actions. Women In Management Review, 7(1), 2-9.

Higashi, R. (2016). A heteronormatividade e a graduação em Administração. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES, Brasil.

Jagger, G. (2008). Judith Butler: sexual politics, social change and the power of the performative. Nova York: Routledge.

Jagose, A. (1996). Queer theory: an introduction. New York: New York University Press.

Kelan, E. K. (2013). The becoming of business bodies: gender, appearance, and leadership development. Management Learning, 44(1), 45–61.

Lorentz, C. N. (2014). Diversidade e reconhecimento da diferença: um estudo no âmbito organizacional. Tese de Doutorado, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil.

Louro, G. (2016). Um corpo estranho: ensaios sobre a sexualidade e teoria queer. (2a Ed., 3a reimp.). Belo Horizonte: Autêntica.

Martins, P. et al (1997). Repensando a formação do administrador brasileiro. Archétypon, 15(5), 11-30.

Miskolci, R., & Pelúcio, L. (2007). Fora do sujeito e fora do lugar: reflexões sobre performatividade a partir de uma etnografia entre travestis. Gênero, 7(2), 257-269.

Morgan, G. (2007). Imagens da Organização. (2a Ed). São Paulo: Editora Atlas S.A.

Moura, R. G., & Lott, A. C. O. (2016). Segmento LGBTT: uma análise de artigos publicados em periódicos nacionais de 2000 a 2015. Anais do Encontro da ANPAD, Costa do Sauípe, BA, Brasil, 40.

Moura, R. G., Nascimento, R. P., & Barros, D. F. (2017). O problema não é ser gay, é ser feminino: o gay afeminado nas organizações. FAROL – Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, 4(11).

Nkomo, S. M., & Cox, T. (1999). Diversidade e identidade nas organizações. In Clegg, S. R. & Hardy, C. (Orgs.). Handbook de estudos organizacionais: modelos de análise e novas questões em estudos organizacionais. (1a Ed., vol. 1). São Paulo: Atlas.

Orlandi, E. P. (2002). Análise de discurso: princípios e procedimentos. 4a Ed. Campinas/SP: Pontes.

Ozturk, M., & Rumens, N. (2014). Gay male academics in UK Business and Management schools: negotiating heteronormativities in everyday work life. British Journal of Management, 25(3), 503–517.

Petinelli-Souza, S. (2013). Constituição e formação do sujeito administrador. Administração: Ensino e Pesquisa, 14(3), 453-483.

Pinto, J. (2007). Conexões teóricas entre performatividade, corpo e identidades. D.E.L.T.A, 23(1), 1-26.

Reed, M. (2007). Teorização organizacional: um campo historicamente contestado. In Clegg, S. R., Hardy, C. & Nord, W. R. (Orgs.). Handbook de Estudos Organizacionais V. 1. São Paulo: Editora Atlas S.A.

Rumens, N. (2016). Towards queering the business school: a research agenda for advancing lesbian, gay, bisexual and trans perspectives and issues. Gender, Work & Organization, 23(1), 36–51.

Saraiva, L. A. S. (2016). Metonímia de um extermínio: a violência contra a população LGBT. FAROL – Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, 3(7).

Saraiva, L. A. S., Santos, L. T., & Pereira, J. R. (2019). Heteronormatividade, masculinidade e preconceito em aplicativos de celular: o caso do Grindr em uma cidade brasileira. BBR – Brazilian Business Review, 17(1), 114-131.

Shimada, N. E., & Crubellate, J. M. (2012). A constituição do administrador profissional. Caderno de Administração, 20(2).

Silva, T. T. (2013). Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. (3a Ed., 4 reimp.) Belo Horizonte: Autência Editora.

Somekh, B., & Lewin, C. (2015). Glossário. In Somekh, B. & Lewin, C. (Orgs.). Teoria e métodos de pesquisa social. Petrópolis/RJ: Vozes.

Souza, E. (2009). O mito da igualdade: análise pós-estruturalista das políticas de diversidade promovidas por bancos públicos e privado. Anais do Encontro de Gestão de Pessoas e Relações de Trabalho da ANPAD, Curitiba, PR, Brasil, 2.

Souza, E. (2017). A teoria queer e os estudos organizacionais: revisando conceitos sobre identidade. RAC, 21(3), 308-326.

Souza, E. M., & Carrieri, A. P. (2010). A analítica queer e seu rompimento com a concepção binária de gênero. Rev. Adm. Mackenzie (RAM), 11(3), Edição Especial.

Sullivan, N. (2003). A critical introduction to queer theory. New York: New York University Press.

Swain, T. (2001). Para além do binário: os queers e o heterogêneo. Gênero, 2(1), 87-98.

Swain, T. (2009). Heterogênero: “uma categoria útil de análise”. Educar, 35, 23-36.

Swan, E., Stead, V., & Elliott, C. (2009). Feminist challenges and futures: women, diversity and management learning. Management Learning, 40(4), 431–437.

Teixeira, J. C., Perdigão, D. A., & Carrieri, A. P. (2016). O discurso gerencialista e a construção de ideais estéticos femininos e masculinos. FAROL – Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, 3(7).




Licença Creative Commons
Esta obra está licenciada sob uma licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.