Decolonizando a beleza: a influência das texturas capilares naturais na estética de mulheres negras brasileiras
Texto completo:
PDFResumo
O objetivo da presente investigação é compreender como a assunção de texturas capilares naturais contribui para a redefinição decolonial das noções de beleza e senso estético de mulheres negras. A relevância dessa questão está no entendimento das formas de resistência (ou não) à colonialidade que ocorrem no cotidiano destas mulheres. Foi realizada uma pesquisa qualitativa exploratória por meio de história de vida com recorte temático, resgatada por meio de entrevistas aprofundadas. A história foi analisada por meio da Análise Temática de Braun e Clark em consonância com Atkinson. Os achados revelaram que as possibilidades de interação e criação de conteúdo presentes na internet foram elementos fundamentais para a construção de novas referências de beleza, que incluem a estética negra dentro do belo. Ainda, que o senso de pertencimento a uma comunidade de iguais em quem se espelhar é um elemento fundamental para decolonizar a subjetividade e reconstruir as noções estéticas e de beleza de mulheres negras que realizaram transição capilar. Conclui–se que a assunção dos cabelos naturais por mulheres negras tem potencial transformador do ser, libertando-o dos preceitos sociais racistas esperados pela sociedade.
Palavras-chave
Referências
Abdalla, M. M.; & Faria, A. (2017). Em defesa da opção decolonial em administração/gestão. Cad. EBAPE. BR. Rio de Janeiro, 15(4): 914-929. https://doi.org/10.1590/1679-395155249
Alcadipani, R.; & Rosa, A. R. (2010). O pesquisador como o outro: uma leitura pós-colonial do “Borat” brasileiro. Revista de Administração de Empresas RAE, 50(4): 371-382. https://doi.org/10.1590/S0034-75902010000400003
Atkinson, R. (1998). Interpreting the interview. In The Life Story Interview, 54–74. SAGE Publications.
Avelar Ferreira, C. A.; & Costa Nunes, S. (2020). Mulheres negras: um marcador da desigualdade racial. Revista da Associação Brasileira de Pesquisador as Negras - ABPN, 12(33): 508–534. https://doi.org/10.31418/2177-2770.2020.v12.n.33.p508-534
Ballestrin, L. (2013a). América Latina e o giro decolonial. Rev. Bras. Ciênc. Polít., Brasília, 11: 89-117. https://doi.org/10.1590/S0103-33522013000200004
Ballestrin, L. (2013b). Para transcender a colonialidade. [Entrevista concedida a] Luciano Gallas e Ricardo Machado. Recuperado em 26 de junho de 2025 de: https://www.ihuonline.unisinos.br/artigo/5258-luciana-ballestrin
Bleidorn, W.; Arslan, R. C.; Denissen, J. J.; Rentfrow, P.J.; Gebauer, J. E.; Potter, J; & Gosling, S. D. (2016). Age and gender differences in self-esteem-A cross-cultural window. Journal of Personality and Social Psychology, 111(3): 396-410. doi: 10.1037/pspp0000078
Braga, J. B., & Souza, F. M. dos S. (2019). Liberdade para os cachos: a linha Curly Wurly e a ruptura de padrões estéticos. Anais do Seminário Comunicação e Territorialidades.
Braun, V., & Clarke, V. (2006). Using thematic analysis in psychology. Qualitative Research in Psychology, 3(2): 77–101. https://doi.org/10.1191/1478088706qp063oa
Carreteiro, T. C. (2003). História de vida: da genealogia a um estudo. Psico (Porto Alegre), 34(2), 281–295.
Carreteiro, T. C. (2009). Fazer de uma coletividade uma história coletiva. In N. Takeuti; C. Niewiadomski (Orgs.). Reinvenções do sujeito Social: Teorias e Práticas Biográficas. Natal: ED. Sulina, UFRN. 126–140.
Chambers, D. (2022). Are we all in this together? Gender intersectionality and sustainable tourism. Journal of Sustainable Tourism, 30(7): 1586–1601. https://doi.org/10.1080/09669582.2021.1903907
Craide, A. (2011). A Adoção da História de Vida em Pesquisas sobre a Interculturalidade: uma nova possibilidade de aplicação no campo da Administração. Anais do Terceiro Encontro de Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade. João Pessoa: ANPADDas,
Das & Semaan, B. (2022). Collaborative identity decolonization as reclaiming narrative agency: identity work of bengali communities on quora. In: CHI ’22: Chi Conference On Human Factors in Computing Systems, 2022, New Orleans LA USA. Recuperado em 26 de junho de 2025 de: https://dl.acm.org/doi/10.1145/3491102.3517600
Ferreira, C. A. A.; & Nunes, S. C. (2024). A estética feminina como atributo de exclusão no mercado de trabalho brasileiro. Revista Gestão & Conexões, 13(2). https://doi.org/10.47456/regec.2317-5087.2024.13.2.42146.50.72
Freire, P. (2019). Pedagogia do Oprimido. (71. ed.) Rio de Janeiro: Paz e Terra.
Freitas, G. C. de S. (2018). Cabelo crespo e a mulher negra: A relação entre cabelo e a construção da identidade negra. Revista Idealogando, 2(2): 65–87. Recuperado em 26 de junho de 2025: de: https://periodicos.ufpe.br/revistas/idealogando/article/view/238062/Freitas.
Flores-Pereira, M. T. (2010). Corpo, pessoa e organizações. Organizações & Sociedade, 17(54): 417–438. https://doi.org/10.1590/s1984-92302010000300002
Fotaki, M. (2013). No woman is like a man (in Academia): the masculine symbolic order and the unwanted female body. Organization Studies, 34(9): 1251–1275. https://doi.org/10.1177/0170840613483658
Gomes, C. F. A. G.; & Arrazola-Arrazola, L. S. D. (2019). Consumo e Identidade: o cabelo afro como símbolo de resistência. Revista da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/As ABPN, 11(27): 184–205. Recuperado em 26 de junho de 2025: de https://abpnrevista.org.br/site/article/view/496
Gonçalves, R. de C.; & Lisboa, T. K. (2007). Sobre o método da história oral em sua modalidade trajetórias de vida. Revista Katálysis, 10(esp): 83-92. https://doi.org/10.1590/S1414-49802007000300009
Gonzalez, L. (1984). Racismo e sexismo na cultura brasileira. Ciências Sociais Hoje, Brasília, 2: 223-244.
Hallpike, C. R. (1969). Social Hair. Royal Anthropological Institute of Great Britain and Ireland, 4(2): 256-264. Recuperado em 26 de junho de 2025: de https://www.hallpike.com/wp-content/uploads/social-hair.pdf
Hancock, P.; & Tyler, M. (2007). Un/doing Gender and the Aesthetics of Organizational Performance. Gender, Work & Organization, 14(6): 512–533. https://doi.org/10.1111/j.1468-0432.2007.00369.x
Kilomba, G. (2019). Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó.
Libretti, A. dos S.; Moreira, R.; & Amorim, M. C. (2018). Dress code: das considerações teóricas às práticas nas organizações. Pensamento & Realidade, 33(1): 2–18. Recuperado em 26 de junho de 2025: de https://revistas.pucsp.br/index.php/pensamentorealidade/article/view/34004
Lima-Souza, É. C. P.; Mota-Santos, C. M.; Carvalho Neto, A. M.; & Diniz, D. M. (2024). A beleza é mesmo tão fugaz? Padrões estéticos do telejornalismo tradicional e da internet. Revista Gestão Organizacional, 17(3): 76-94. https://doi.org/10.22277/rgo.v17i3.7333
Lopes, F. T. (2013). Entre o prazer e o sofrimento: histórias de vida, drogas e trabalho. [Tese de Doutorado, Universidade Federal de Minas Gerais]. Repositório Institucional da UFMG. http://hdl.handle.net/1843/BUOS-9HTHKE
Lugones, M. (2014). Rumo a um feminismo descolonial. Revista Estudos Feministas, 22(3): 935–952. https://doi.org/10.1590/S0104-026X2014000300013
Maldonado-Torres, N. (2007). On the coloniality of being: contributions to the development of a concept. Cultural Studies, 21(2–3): 240–270. https://doi.org/10.1080/09502380601162548
McMullin, J. A.; & Cairney, J. (2004). Self-esteem and the intersection of age, class, and gender. Journal of Aging Studies, 18(1): 75–90. https://doi.org/10.1016/j.jaging.2003.09.006
Meighan, P. J. (2021). Decolonizing the digital landscape: the role of technology in Indigenous language revitalization. AlterNative: An International Journal of Indigenous Peoples,17(3): 397–405. https://doi.org/10.1177/11771801211037672
Mesquita, J. S.; Teixeira, J. C.; & Silva, C. R. (2020). Cabelo (Crespo e Cacheado) pro alto, me levando a saltos em meio à ressignificação das identidades de mulheres negras em contextos sociais e organizacionais. Revista Eletrônica de Ciência Administrativa, 19(2): 227-256. https://doi.org/10.21529/RECADM.2020010
Mignolo, W. D. (2003). Historias locales/diseños globales: colonialidad, conocimientos subalternos y pensamiento fronterizo. Madrid: Ediciones Akal,18.
Mignolo, W. D. (2007). Delinking: The rhetoric of modernity, the logic of coloniality and the grammar of de-coloniality. Cultural Studies, 21(2–3), 449–514. https://doi.org/10.1080/09502380601162647
Mignolo, W. D. (2008). La opción de-colonial: desprendimiento y apertura. Un manifiesto y un caso. The decolonial option: detachment and opening – a manifest and a case study A opção de-colonial: desprendimento e abertura. Um manifesto e um caso. Tabula Rasa.
Mignolo, W. D. (2015). Prólogo - De lo estético/estésico y lo decolonial. In: Moreno, P. P. G. Estéticas fronterizas: diferencia colonial y opciónestética decolonial. Bogotá: Universidad Distrital Francisco José de Caldas, Universidad Andina Simón Bolívar (Ecuador), 350.
Miles, M. B., & Huberman, A. M. (1994). Qualitative data analysis: An expanded sourcebook. Sage.
Miller, D. (2013). Trecos, troços e coisas: estudos antropológicos sobre a cultura material: Schwarcz-Companhia das Letras.
Mizrahi, M.; Carvalho, A.; Mello, P.; & Alduino, M; G. (2019). À procura da estética adequada: Raça, gênero e geração no espaço escolar. Crítica e Sociedade, 9(2): 148-167. https://doi.org/10.14393/RCS-v9n2-2019-56581
Moraes, C. D. F.; Madeiro, R. T.; Ávila, C. S.; Ribeiro, C. J.; & Dias Neto, V. (2022). Meu cabelo não é duro: uma análise decolonial sobre o racismo enquanto produção de violência. In: Gevehr, D. L. Raça, etnia e gênero: questões do tempo presente. (1. ed.): Editora Científica Digital, 218–229. Disponível em: http://www.editoracientifica.com.br/articles/code/211106804.
Moreno, P. P. G. (2015). Estéticas fronterizas: diferencia colonial y opción estética decolonial. Bogotá: Universidad Distrital Francisco José de Caldas, Universidad Andina Simón Bolívar.
Moreira, A. J.; Martinelli, G. D.; Bento, H. de A.; & Palmieri, R. P. (2023). Discriminação Estética / Aesthetic Discrimination. Revista Direito e Práxis, 14(3): 1934–1959. Recuperado em 26 de junho de 2025 de https://www.e-publicacoes.uerj.br/revistaceaju/article/view/78114
Nascimento, B. (2007). O conceito de quilombo e a resistência cultural negra. In Ratts, Alecsandro (Alex) J. P. Eu sou Atlântica: sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento. (1. ed.) São Paulo: Imprensa Oficial / Instituto Kuanza. 136p.
Oliveira, A. C. S.; & Christino, J. M. M. (2021). As práticas de consumo no processo de transição capilar das mulheres brasileiras com cabelos crespos e cacheados. Revista Brasileira de Marketing, 20(4): 325-361. https://doi.org/10.5585/remark.v20i4.15828
Pinto, B. de O. S.; Carreteiro, T. C. O. C.; & Rodriguez, L. da S. (2016). Trabalhando no" entre": a história de vida laboral como método de pesquisa em psicossociologia. Farol-Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, 2(5): 976-1022. https://doi.org/10.25113/farol.v2i5.3129
Queiroz, M. I. (1991). Variações sobre a técnica de gravador no registro de informação viva. São Paulo: CERU e FFLCH/USP.
Queiroz, R. C. de S. (2019). Os efeitos do racismo na autoestima da mulher negra. Caderno de Gênero e Tecnologia, 12(40): 213–229. DOI: 10.3895/cgt.v12n40.9475
Quijano, A. (2005). Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: Lander, E. (org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO. Disponível em: http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/clacso/sur-sur/20100624103322/12_Quijano.pdf
Ramos, D. M. dos, & Nascimento, V. G. do. (2008). A família como instituição moderna. Fractal: Revista de Psicologia, 20, 461–472. https://doi.org/10.1590/S1984-02922008000200012
Ribeiro, J. S. B. (2021). Crespas e cacheadas: o cabelo como condição estético-identitária de afirmação étnico-racial e libertação para mulheres adultas e crianças. Revista Da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/As, 13(36): 449–473. Recuperado em 26 de junho de 2025 de https://abpnrevista.org.br/site/article/view/918Ribeiro, D. (2017). O que é lugar de fala (1st ed.). Letramento.
Reis, M. de O. (2019). O pacto narcísico da casa-grande: a representação das mulheres negras a partir de Lélia Gonzalez e Gilberto Freyre. Humanidades em diálogo, 9(1): 93-101. https://doi.org/10.11606/issn.1982-7547.hd.2019.154274
Rivera, C. M. (2015). Decolonialidad, Tecnologías Y Comunicación. Un estudio de caso. Diálogos de la Comunicación, 27.
Silva, A. P.; Barros, C. R.; Nogueira, M. L. M.; & Barros, V. A. (2007). “Conte-me sua história”: reflexões sobre o método de História de Vida. Mosaico: estudos em psicologia, 1(1): 25-35. Recuperado em 26 de junho de 2025: de https://periodicos.ufmg.br/index.php/mosaico/article/view/6224
Silva, L. M. (2020). O lugar da mulher no mundo do trabalho: engenheira, professora, ou professora engenheira? [Dissertação de mestrado, Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais]. Repositório Institucional: https://sig.cefetmg.br/sigaa/verArquivo?idArquivo=3230284&key=52db777ee7f405b17f9c6498726193d2
Spindola, T.; & Santos, R. S. (2003). Trabalhando com a história de vida: percalços de uma pesquisa (dora?). Revista da Escola de Enfermagem da USP, 37(2): 119-126. https://doi.org/10.1590/S0080-62342003000200014
Teixeira, J. C.; Perdigão, D. A.; & Carrieri, A. P. (2016). O discurso gerencialista e a construção de ideais estéticos femininos e masculinos. Farol - Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, 3(7): 385-436. https://doi.org/10.25113/farol.v3i7.2679
Teixeira, R.; Lemos, A. H. C.; & Lopes, F. T. (2021). A história de vida na pesquisa em Administração. Revista Pensamento Contemporâneo em Administração (UFF), 15(4): 101-118. https://doi.org/10.12712/rpca.v15i4.51662
Vieira, C. A. L.; Farias, I.; Barroso, C. M.; Maranhão, J. H.; & Vasconcelos, F. D. S. (2022). A estética da mulher negra em anúncios para cabelos crespos. Revista Mídia e Cotidiano, 16(2): 175–195. https://doi.org/10.22409/rmc.v16i2.51972
Wanderley, S. E. P.; & Faria, A. (2013). Border thinking as historical decolonial method: reframing dependence studies to (re)connect management and development. ENANPAD. Ed. XXXVII. Rio de Janeiro.
Wanderley, S. (2015). Estudos organizacionais, (des)colonialidade e estudos da dependência: as contribuições da Cepal. Cadernos EBAPE.BR, 13(2): 237-255. https://doi.org/10.1590/1679-395115852
Wanderley, S. E. P.; & Barros, A. N. (2016). Decolonialidade, virada histórica e estudos organizacionais: uma proposta de agenda de pesquisa. ENANPAD. Ed.XL. Bahia.
Weitz, R. (2004). Rapunzel’s Daughters: What Women’s Hair Tells Us About Women’s Lives. (1. ed.) Farrar, Straus and Girou.
Witz, A., Warhurst, C., & Nickson, D. (2003). The labour of aesthetics and the Aesthetics of Organization. Organization, 10(1): 33–54. https://doi.org/10.1177/1350508403010001375
Wood Jr, T.; & Csillag, P. (2001). Estética Organizacional. Organizações & Sociedade, 8(21), Maio/Agosto. 26 de junho de 2025

Esta obra está licenciada sob uma licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.

e-ISSN: 1677-7387